sexta-feira, 30 de março de 2012

Início Atividades/ Incubadora 2012




O projeto de acompanhamento crítico INCUBADORA é voltado para artistas visuais que queiram sistematizar o pensamento sobre sua própria produção.

INCUBADORA propõe estratégias de inserção no contexto da arte contemporânea e propicia contato com críticos e artistas convidados. Através da orientação de projetos individuais e reflexão sobre os textos mais urgentes da atualidade, o artista irá:
- mergulhar reflexivamente em seu processo de criação;
- conhecer vetores importantes das questões da contemporaneidade que influenciam os desdobramentos da arte;
- compreender as conexões de suas pesquisas visuais com o universo da arte contemporânea;
- ampliar seu repertório conceitual e potencializar sua produção artística;

INCUBADORA se reúne semanalmente e está aberto à análise de portfólios para novos artistas que queiram integrar o grupo.

Quintas-Feiras 16:00 às 18:00h e 18:00 às 20:30h.
Valor: R$ 260,00

Regina Johas Artista é plástica e pesquisadora. Doutora (2004) em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes /USP, graduada em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e especializada em História da Arte pela Universidade de Colônia, Alemanha (1989).
Foi orientadora do Projeto Experiência 2011/ Itaú Cultural SP, dedicado a jovens artistas em formação. Foi júri em inúmeros processos seletivos e salões de arte (SARP, Itaú Cultural, SESC, entre outros). Participou em diversas exposições nacionais e internacionais. Possui obras nos seguintes acervos públicos: Museu de Arte Moderna/São Paulo; Museu Nacional de Belas Artes/Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea do Paraná/Paraná; Museu de Arte de Ribeirão Preto/São Paulo. Participação em exposições recentes: “Jardins Circulares”– Galeria Veredas SP – SP/2011"Trans_imagem"(como curadora) – Galeria Virgilio – SP/2010; "Sobre o Desenho" – MABE/ FAAP/ Lutetia – SP/2008; Ctrl_C Ctrl_V"– SESC Pompéia – SP/2007; 7ème Mondiale de l`Estampe et de la Gravure Originale, Triennale de Chamalières – Chamalières, França/2006; “10 anos de um novo MAM: Antologia do acervo” – MAM – SP/2005; “38. Bienal Internacional de Cerveira” – Portugal/2005.
Como pesquisadora, investiga questões referentes à análise da imagem e da linguagem visual, vetores conceituais da arte contemporânea e gênese dos processos criativos. É Professora Titular Doutora na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), nos cursos de Artes Visuais e de Arquitetura e Urbanismo. Professora Doutora na pós-graduação em História da Arte da FAP/FAAP/Ribeirão Preto.

Nós Moçada #2


Na segunda exposição do nós-moçada, o coletivo se adensou. Apareceram mais nós. Ninguém novo no coletivo, eles continuam sendo os mesmos 14 que há 6 meses se reúnem para estudar e mostrar suas produções em espaços alternativos de São Paulo. No entanto, dessa vez, aparecem obras de autoria dupla, ou obras que tentam conectar todas as salas de exposição do Veredas, deixando a liga mais forte, para ninguém ficar sozinho.

Um conceito que perpassa vários desses trabalho, e que certamente tem ligação com a questão do coletivo, é a multiplicidade de identidades da era da comunicação cibernética. A frase famosa de Arthur Rimbaud, “Je est un autre” (Eu é um outro) é aqui atualizada para “Je est plusiers autres” (Eu é muitos outros), como explicitado na obra que exibe vários televisores, cada um com um personagem diferente encarnado no mesmo corpo, referência explícita a Cindy Sherman. Em outra sala, o universo de um “eu fictício”, Jaques Jolene, é apresentado como instalação. Um “eu virtual” participa da abertura da exposição em uma performance a longa distância: um dos membros do coletivo que está na Islândia passeará, via Skype, nos braços dos espectadores, carregado como se fosse um bebê, para participar da festa.

Obras que se espalham, como a que convida os espectadores a encher bexigas e deixar no espaço da exposição ou o morrinho de areia que inevitavelmente será carregado em grãos pelos pés dos visitantes, propõem a circulação, a criação de uma trama, como a rede que aparece no vídeo logo na entrada do Veredas.

A montagem vai ser uma obra também, definida pela questão da caracterização do coletivo como unidade. O nome de cada artista aparece nas etiquetas das obras como mais uma informação técnica, ao lado das medidas ou materiais usados. Afinal que nome é esse? Cada um dos nós são muitos eus.

Paula Braga, 2012


Alessandra Falbo



 
 
, 2010
Vídeo 30'49
I: Processo de  e II Processo de , 2010
parceira com Samuel Esteves
Colagem de ampliações fotográficas sobre acrílico 




Bárbara Hoffmann

Encha a Bexiga, 2010 
Instalação
Daniel Lie


Madeira de Cristal, 2010

Escultura em madeira


Série Incisões de Tempo/ De Foda-se Freud a Decorrer, 2011

Pinturas sobre painéis fotográficos


Denise Alves-Rodrigues



Pau a Pau, 2010/2012
Vídeo 15', compensado tipo virolinha e impressão sobre adesivo




















Felipe Meres




Impositivo, 2012
Perfomance










Gabi Vanzetta
 


Ele ama você, 2012
Vídeo Instalação


Janaina Wagner





Um Labirinto em Cada Pé ou Coqueluche, 2012
Cimento, ferro e gaze


Fé (cura dor), 2012
vídeo instalação 8'07''(em looping)




Joanna Barros


 


Só escapo pela porta da saída, 2012
Performance


Julia Cury


Emparedamento II, 2012
Performance 


Emparedamento I, 2011
Registro de performance por Adriane Lisboa
















Leonardo Akio



Truelo, 2011

Madeira, cobre e elásticos

Márcia Beatriz


 Mundum (série Peripécias), 2011
Vídeo 4'50''

Nei Franclin

Sem Título, 2012
Instalação: desenho, grafite sobre placas de gesso

Paula Zacaro

Série Interiores #9, 2011
Óleo sobre madeira

Viviane Tabach

Sem Título (Para Lina bo Bardi), 2012
9 fotografias a partir de intervenção 
Ampola, 2012

Instalação com Areia

Janaina Wagner + Viviane Tabach
Marasmo, 2012
Fotografia (díptico)

Daniel Lie + Janaina Wagner + Nós Moçada

para mais informações sobre o grupo Nós-Moçada

quarta-feira, 28 de março de 2012

Incubadora #1

 




INCUBADORA#1
A obra de arte é uma experiência no mundo, e não um comentário sobre o mundo1. Uma experiência e um modo de experimentar-se no mundo. O existir é para o artista uma condição singular: estar exposto ao fio da navalha do ser-estar, existência sem meio-termo. Os artistas são subjetividades vulneráveis aos movimentos da vida e sua obra é a cartografia dos estados sensíveis que sua deambulação pelo mundo mobiliza.2
É preciso que o artista, ao experimentar-se no mundo, possa reconhecer seu repertório de formas e articulá-las, para poder inscreve-las nas redes de signos e significados de seu tempo. É preciso que o artista possa produzir um novo nexo para os acontecimentos, que possa especificar as suas formas em formas-pensamento. Existe aí um espaço em que o involuntário aparece, o pensamento manifestando-se em ato, pensamento-escultura.  É apenas ao longo de sua caminhada que estas formas-pensamento lhes vão sendo reveladas e assim compreendidas. Registradas nas marcas do processo de construção da sua obra, somente então estas formas se dão a ver, elas não preexistem  em sua consciência.
Como quem habita um universo em desalinho, o artista  vai assim se movendo entre sistemas não-lineares de criação e passo a passo constrói um locus de coerência que permitirá dar visibilidade ao seu projeto poético3. O feixe de articulações determinado pela ação criadora se arma a partir de desenhos, esboços, textos, colagens, maquetes e anotações, os quais tecem uma rede de significados a partir da qual a obra vai se desenhando.
Para aquele que se coloca na posição de acompanhar o processo criativo dos artistas, trata-se de tentar desvelar para os mesmos os sentidos já existentes no seu universo: as camadas de história, de tempo, as  tendências e intencionalidades presentes nas marcas da criação, que revelam nuances do projeto poético do criador4. O movimento multidirecional do artista dá origem aos debates conceituais que vão lhe subsidiar a reflexão e a produção, trazer para a consciência o que no fluxo e refluxo do fazer permanece-lhe velado. Se há um texto existencial pré-criativo em cada um de nós, se cada um de nós é atravessado por um pensamento que nos pensa, cabe ao artista-professor conduzir o jovem artista à descoberta deste texto existencial, deste pensamento que o pensa.
A mostra INCUBADORA#1 é resultante de um ano de trabalho do grupo de pesquisa Incubadora, sob minha orientação. Reúne os desdobramentos recentes da produção de Elaine Pessoa, Eide Feldon, Gláucia Martelli e Juliana D Chohfi.
Palimpsestos Urbanos, de Elaine Pessoa, consiste numa seqüência fotográfica composta por 10 imagens (impressão fine art digital sobre papel algodão Hahnemühle 350g), as quais fazem alusão ao formato clássico da Polaroid. Segundo a artista, uma de suas questões é mostrar “o acúmulo e a sedimentação do tempo por sobreposição de imagens, memória de imagem passada sobre imagem presente. Utilizando a mídia de celular, encontro aí uma forma de registrar e manipular a temporalidade. Abordo como assunto principal a cidade e tenho como desafio as dimensões do espaço e do tempo nela apresentadas”. Sobrepostas em camadas translúcidas, as imagens capturadas do caos urbano traduzem, no amálgama que constituem, os tempos empilhados e plurais da intensa experiência contemporânea. As “falsas” polaroids que Elaine nos apresenta reclamam aquela condição da imagem instantânea da câmera fotográfica Polaroid, lembrando-nos o “quão extraordinário é ver o mundo se fazendo imagem. Ver a paisagem como se ela fosse o mundo se fazendo imagem. Ver a paisagem como se ela fosse um momento intermediário entre a miragem e a alucinação, entre a imagem que o mundo produz e a que a mente cria”.5
Eide Feldon, em Trans@locar, reúne um conjunto de imagens a partir da apropriação e deslocamento da representação do feminino no campo histórico da arte. Trabalhando com uma temporalidade distendida, Eide opera a partir da produção e do arquivamento de um número crescente de imagens, fazendo circular grandes quantidades de informação que se condensam num presente distendido,  caracterizado por um estado de hipermnésia6. Em estado de fluxo, o
excesso e a aceleração da informação nos roubam a temporalidade necessária para que a memória se forme, fazendo colapsar a nossa leitura ordenada dos acontecimentos.
Canapoesis é uma vídeo-instalação que traz imagens geradas a partir da experiência vivida junto aos trabalhadores braçais oriundos do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, a 1400 km de São Paulo. Com idades entre 20 e 50 anos, estes trabalhadores procuram canaviais paulistas em busca de melhores condições salariais. Nas palavras de Gláucia Martelli, “busco criar uma tensão no limiar entre o documental e o não documental a partir de minha vivência com estes trabalhadores e das questões sócio-político e histórico-culturais envolvidas neste contexto. Canapoesis propõe reflexos fragmentados de uma paisagem composta de operários rurais e a cana. Em sua maioria, trata-se de corpos com grande vigor físico, mas alguns deles fragilizados, até mesmo chagásicos”. A materialidade da linguagem – entre o real e as nervuras da superfície luminosa – borra os limites do descritivo-documental e explora a fabricação de um outro real, produzindo uma paisagem de outra natureza. Partindo da dura realidade dos canaviais, Gláucia cria uma seqüência rítmica sem começo, meio e fim, cujo movimento aparentemente repetitivo transforma-se numa pulsação que caracteriza a ambiência hipnotizante da vídeo-instalacão.
Juliana D Chohfi mostra Dissecção, uma instalação composta de um sudário e de uma vídeo-performance.  Para Chohfi, trata-se de “dois corpos que interagem inicialmente com sensualidade e, num segundo momento, com gestos brutos, buscando desconstruir o corpo ideal e imortal – o corpo universal. Dissecção consiste numa ação em que um busto de argila feminino foi dissecado sobre uma mesa coberta com um pano branco, numa sala de paredes brancas”. A jovem artista explora, na transmutação de um corpo modelado em argila para um corpo dilacerado uma erótica que entendemos como limítrofe. Aproximando-se das atuais discussões acerca da questão do corpo e da subjetividade, não somente na arte como também na cultura contemporânea, esse corpo como despojo que Chohfi nos apresenta aponta em direção a um erotismo no qual se observa, citando Bataille, uma “afinidade fundamental entre a pulsão sexual e a morte”.
Num tempo em que a modernidade criou um excesso de exterioridades, o acesso à totalidade do processo criativo destas artistas e a construção de espaços de diálogo tem garantido ao grupo Incubadora preservar-se num mundo onde tudo está exposto. É preciso reencontrar as esferas dos espaços íntimos, espaços de vibração. Uma filosofia do espaço íntimo só pode ser pensada em termos de binômio (eu só existo na relação/dependência de um outro)7. Estamos falando aqui de espaços relacionais. O grupo Incubadora propõe um espaço em que estas trocas se tornam possíveis e se transformam numa realidade vivencial.

Regina Johas
16 de fevereiro de 2012

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2 ROLNIK, Suely.
3CIRILLO, José. Arqueologias da criação: um olhar através do processo.  José Cirillo  é pesquisador e professor do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo e    Coordenador do Laboratório de Estudos e Ensino da Arte.
4Idem.
5GARCIA DOS SANTOS, Laymert. Politizar as Novas Tecnologias. São Paulo: Editora 34, 2003.
6SELIGMAN, Márcio. “Espaço, Aceleração e Amnésia: A Arte como dispositivo de (re)inscrição”, palestra apresentada no Simpósio Espaço, Aceleração e Amnésia. São Paulo: Paço das Artes, 2007.
7 SLOTERDIJK, Peter. Esferas I. Madrid: Ediciones Siruela, 2003.

Eide Feldon


Elaine Pessoa


Gláucia Martelli


Juliana D Chohfi


A exposição INCUBADORA # 1, com abertura no dia 29 de fevereiro, às 19 horas, estará aberta ao público entre os dias 29 de fevereiro a 17 de março, das 14 às 17 horas, sábado das 10 às 13 horas na Galeria VEREDAS-SP, localizada em Pinheiros, na Rua Lisboa 328, tel. 3081 3505, veredas@veredas-sp.com,  www.veredas-sp.com.








Corpotopias - Ana Kesselring



Se a fragmentação e a estilização do corpo implicava, para a estética moderna, desrealização e desumanização – “destrói-se a forma humana, desumaniza-se a arte”[1] –, em nossos tempos biocibernéticos, era do pós-humano[2], era do pós-orgânico[3], constatamos que o imaginário da desantropomorfização assimilou plenamente a noção da natureza imprevisível dos sistemas vivos, assim como a contingência de um corpo humano mutante, fragmentado, em sintonia com um mundo no qual a simbiose entre orgânico e inorgânico parece ter-se tornado incontornável.
           
            É neste quadro contextual que podemos apreciar a produção recente de Ana Kesselring e Vivian Kass. As duas artistas anunciam, em formas ruptoras da estabilidade dos limites corporais, uma outra natureza, a de um organismo como um sistema de conexões, extensões e hibridizações.  Um corpo intensivo.

            Corpotopias + Aba & Porus tem assim como questão central a construção destes entes situados na conjunção entre o humano, o animal e o vegetal. Corpos grávidos. Corpos que nascem de outros corpos, que habitam excentricamente, fora de seu próprio centro. Em Corpotopias  (Ana Kesselring), é o entrecruzamento da pintura e do desenho que resulta na elaboração destes corpos-borbulha, integrantes de um imaginário rico:  desenhar formas é desenhar espaços, desenhar espaços é desenhar o mundoAba & Porus (Vivian Kass) traz uma explosão lúdica. Avizinhando-se em muitos momentos do legado de Tarsila do Amaral, Vivian reencena Abaporu com suas formas redondas, desdobrando-a em ramificações que são espaços animados. Entes pré-subjetivos, estes corpos-díades são compostos por formas-membro que figuram como extensões protéticas.

Regina Johas
01/11/2011



[1] ORTEGA Y GASSET, José. A desumanização da arte. Ricardo Araújo (trad.). São Paulo: Cortez, 1990.
[2] SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano. Da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.
[3] SIBILIA, Paula. O homem pós-orgânico. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 200

Ana Kesselring




imagem Tácito Fotografia